
A FESTA DE AGOSTO PRECISA MORRER
Publicado dia Terca-Feira, 15 de Agosto de 2017 | Por Nilson AraujoA cidade de Porto Feliz tem um
potencial histórico muito mal (ou nada) aproveitado. Tem artesãos, escultores,
desenhistas, pintores, tem vinícolas
que, diga-se de passagem, produzem ótimos vinhos, tem cachaça artesanal, tem o
pão da Chica e os vasos lindos do Boudart. Tem até prato típico: a nossa
deliciosa e incomparável Cearense. Porto Feliz tem tudo para realizar uma festa
típica de sua cultura, mas o que falta?
Este ano, a tradicional Festa de
Agosto foi um fiasco e, se continuar assim, é bom que ela morra! Afinal, quando
um evento que se diz popular favorece apenas o seu provedor, e barraqueiros que vêm de fora -
mesmo que volte aos moldes antigos, favorecendo os produtos chineses - não
interessa à cultura local.
A festa precisa morrer para dar lugar
a uma nova, onde a cidade possa expor
seus produtos e os músicos de raízes possam fazer um bom cururu, em vez deste
show enlatado, produzido por grupos que têm vergonha de suas origens. Do You
know what I’m saying?
Não é possível acreditar que um
município que tem 2/3 de sua área ocupados por cana-de-açúcar, não produza uma gota de cachaça como marca, como
produto de suas terras. Isso é economia criativa. A cidade tem a obrigação de
estimular a criação da cachaça, da rapadura, do melaço e vender nas nossas
festas, juntos com os produtos que já temos aos montes, e está tudo aqui.
Estamos levando uma surra dos chineses, com seus produtos xing-lings, por falta
de apoio cultural. Verdade seja dita!
Apesar de a igreja reformular a festa para os próximos anos, essa festa vai morrer, porque
é necessário que isso ocorra para renascer numa
festa popular, com raízes porto-felicense. Só assim, descentralizando o poder,
é que a economia criativa nasce. A crise permite que radicalizemos; apesar de
alguns dizerem que em time que está ganhando não se mexe. A
festa não é mais a mesma e precisa morrer!
Precisamos olhar para nossa cultura e
criar oportunidades, aproveitando do nosso calendário festivo. Criar um novo modelo onde a organização
não fique nas mãos de nenhuma entidade isoladamente, para que os líderes,
religiosos ou políticos, não sejam vistos como cafetões de miseráveis.
A economia criativa gera produtos que
beneficiam o povo e sua cultura. A cearense está aí para provar isso, só
precisa de apoio e, com isso, olharmos para o que temos, para criarmos outros
produtos, outras marcas que levem nossa cultura a outro patamar.
Isso não é nenhuma novidade: a pizza é de Nápoles, o queijo é de Parma, a cachaça de
Paraty, o queijo-canastra de Minas e a cerveja é de Campos do Jordão. Até mesmo a cidade vizinha tem os seus
exageros e a Terra das Monções tem só a sua vergonha. Pecado maior tem aquele
que faz vista grossa diante disso e pede para que o fiel reze três Ave-Marias e
pague o seu dízimo.
Quem se propõe a realizar uma festa
deve buscar alternativas para que o evento seja para o bem-comum e não
exclusivamente do seu provedor. Deve analisar os moldes de eventos semelhantes
em outras cidades e também buscar saber como a cidade de Embu, por exemplo, tem barracas que ocupam
todas as ruas centrais da cidade e todos vivem em perfeita harmonia.
Criminalidade existe em qualquer lugar, nada que R$ 30 mil pagos para segurança
privada não resolva a questão.
O fato é que a cidade tem um imenso potencial para realizar uma festa típica de sua gente. Basta visão de quem a organiza. Buscar parcerias, o provedor ceder o espaço (até mesmo porque a prefeitura não cobra das igrejas o espaço da praça). Encontrar um modelo em que ambos sejam ajudados, isso é bem-comum. Somente assim, a cidade em seu todo se une e é prestigiada. Os artesãos, desenhistas, pintores, produtores rurais, entre tantos, são valorizados e, juntos com o povo, realizam um grande evento, promovendo a cidade e o turismo. Todos saem ganhando. Somente assim a Santa volta o seu olhar a este povo, como dirigiu às Monções, fazendo os ventos favoráveis ao progresso soprarem por aqui novamente.
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